Engana-se quem pensa que o grande estelionato eleitoral que vivemos foi a Dilma no segundo mandato, quando ela negou em todos os debates a necessidade de reformas e deterioração das contas públicas e, logo após eleita, colocou em pauta uma agenda mais voltada a austeridade.
Vejam, ela prometeu que as contas estavam em dia, quando não estavam, mas não se eximiu da responsabilidade de reequilibrá-las.
O que vemos hoje é um estelionato eleitoral sem precedentes, onde todos sabem a situação fiscal do país, porém o governo recusa-se a executar qualquer plano que resulte em diminuição dos gastos públicos.
Onde estão as reformas prometidas?
Durante as eleições o Bolsonaro se pautou especialmente em 3 reformas: previdência, administrativa e tributária. Até agora tivemos apenas a reforma da previdência e ainda assim não foi completa, mantendo privilégios das Forças Armadas, por exemplo.
A administrativa nem é comentada e a tributária está num impasse, pois nosso ministro gênio propõe a criação de mais um imposto, pra financiar o principal ponto de ganho, que seria a desoneração da folha de pagamento. Ocorre que a folha já estava desonerada para alguns setores e o próprio Bolsonaro vetou a continuidade dessa desoneração há 1 mês.
Ou seja, querem criar um novo imposto com o argumento de financiar a desoneração da folha, mas ela já estava desonerada para diversos setores, então basicamente a proposta é só aumentar imposto mesmo.
Onde está a agenda de privatizações prometida durante as eleições?
Até agora as únicas medidas positivas nesse sentido foram algumas poucas concessões e a venda de participações minoritárias em empresas, muito pouco pra quem já está praticamente no meio do mandato.
Medidas mais amplas de concessão então nem se fala mais (aliás esse é um dos pontos do dólar estar tão alto).
Renda Cidadã? Programa populista e eleitoreiro
Impressionante como o gostinho da popularidade, proveniente do auxílio emergencial, fez o Bolsonaro se perder completamente. Vejam, até houveram algumas tentativas do Guedes (fraquíssimo) de extinguir outros programas sociais e colocar tudo no mesmo pacote, mas o Bolsonaro vetou e simplesmente está criando uma despesa adicional.
CPMF?
Esse ponto é inacreditável. Nenhum país desenvolvido tem um imposto em cascata desse tipo, mas o nosso super ministro da Economia acha que funcionaria aqui no Brasil. O pior de tudo é que o Bolsonaro é claramente a favor do tema, só não pode se posicionar publicamente dessa forma pois é algo extremamente negativo politicamente falando, então ele deixa o ônus todo na mão do Guedes. Já posso dizer com certeza que o Guedes foi quem mais me decepcionou nesse governo.
Controle de preços??
Bolsonaro é o famoso praticamente do livre mercado, mas só enquanto as condições foram normais. No primeiro sinal de distorção ele correu pro Ministério da Justiça pra questionar o porquê dos aumentos de preços.
Isso gera um risco absurdo e que ninguém estava precificando, que é o de controle de preços.
Sem contar as declarações pedindo "patriotismo" pro mercado financeiro e para os supermercados. Declaração digna de um imbecil completo, claramente tentando transferir os problemas de sua gestão para terceiros. Me lembra bastante o período mais baixo da nossa história, com as declarações da Dilma sobre estocar vento, saudar mandioca.
Vejam, se o arroz está aumentando de preço, de quem é a culpa? Da margem de lucro dos supermercados ou da alta do dólar, que faz os produtores preferirem exportar o produto a vender no mercado interno? E de quem é a culpa pelo dólar estar nesse patamar? Do próprio governo, que abandonou de vez a agenda de reformas, se apoiando na crise do coronavírus para ingressar com programas extremamente populistas.
Alguém precisa avisar o Bolsonaro que "patriotismo" não paga as contas.