quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Gamestop - o risco sistêmico

 Primeiramente, se você não sabe o que está acontecendo com a Gamestop, recomendo a leitura do ótimo post do Foco no Milhão

Agora que você já sabe o que aconteceu, vamos lá:

Até agora todos estão achando graça do ocorrido: "finalmente temos força contra esses fundões de Wall Street"; "unidos vamos vencer o capitalismo selvagem" entre outros.

Mas o ponto aqui é que está em jogo toda a estabilidade do sistema financeiro mundial.

E não, não é exagero.

A forma mais simples de apostar contra uma ação é alugando ela e vendendo no mercado, para recomprar depois por um preço menor. Basicamente isso significa que se você quiser apostar  R$ 1 milhão contra uma ação, você não precisa ter esse R$ 1 milhão disponível, basta você ter a margem exigida, por exemplo de R$ 50 mil. Obviamente que se o preço da ação se mexer, a margem mexe junto.

Pra colocar em termos práticos:

Passo 1) Fundo alugou e vendeu 100.000 ações da Gamestop a 10 dólares. Uma aposta de 1 milhão contra a empresa. Precisou deixar como margem 50k dólares.

Uma semana depois o preço da ação subiu pra 20 dólares, então a margem também dobrou e o fundo agora precisa deixar 100k em garantia. O prejuízo da operação está em 1 milhão.

Só que o preço da ação não parou de subir e agora foi pra 100 dólares. O gestor resolve encerrar a operação, precisando então, recomprar as 100.000 ações no mercado para encerrar seu aluguel. Ele gasta 10 milhões. Prejuízo total de 9 milhões.

Passo 2) Mas de onde o gestor vai tirar essa grana? Das outras posições em ação dele. Então ele vende as ações do Facebook e do Google.

Passo 3) No dia seguinte os investidores olham o valor da cota e veem uma queda brusca: -10% num dia. -40% numa semana. Começam as ondas de resgate.

Passo 4) Agora além de Facebook e Google, empresas nas quais a posição dele tem pouquíssima influência sobre o preço, ele também precisa vender as ações A, B e C, que são small caps e têm pouca liquidez. Aqui a posição dele é relevante, e acaba fazendo os preços no mercado caírem também.

Passo 5) Outros fundos que possuem essas ações também vão ver o valor de suas cotas caindo. Volte ao passo 3.

Espero que a SEC tome medidas contra todos que participaram desse esquema, pois isso é manipulação de mercado pura e simples. Caso não tome nenhuma ação contra isso, corremos sim um risco sistêmico no mercado financeiro global.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Saída do Fundo Garde D'artagnan

 Fui atraído pelo bom track record do fundo na época (gestora fundada em 2013, entrei no fundo em 2017) e pelo ótimo currículo, tanto da equipe quanto dos fundadores.

Acontece que mais de 3 anos depois, fiz as contas do meu retorno acumulado no fundo e cheguei em 114% CDI líquido de taxas e impostos.

Achei extremamente baixo, 1) pelo custo do fundo (2% de taxa de adm a.a. + 20% de tx performance do que exceder o cdi), 2) conseguiria algo na RF que superaria isso com folga e 3) pelo risco corrido (você espera ser remunerado pelo risco adicional, senão era só deixar em algum CDB e esquecer a grana) e 4) a janela de tempo é suficientemente grande para que quedas pontuais tenham sido revertidas.

Mas o que me deixou mais decepcionado foi a visualização do retorno mês a mês. Basicamente o fundo vai bem quando o mercado brasileiro vai bem e vai mal quando o mercado br vai mal.

Peraí, eu não preciso deixar meu dinheiro preso (saídas são D+30) para os caras simplesmente investirem em Bovespa e Real.

Uma das razões para se investir em FI é diversificação e nesse caso está claro que não havia nenhum benefício pra mim (meu portfolio é 100% Brasil).

Infelizmente parece ser mais um daqueles casos onde os gestores fizeram sucesso por um tempo, mas que foi passageiro, o que é um indicativo fortíssimo de sorte.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Presidenta Bolsonaro

 Complementando o post de ontem nosso presidento deu mais uma daquelas declarações sem pé nem cabeça, demonstrando cada vez mais que ele não passa de uma Dilma que usa calças ao invés de vestido:

"Vocês vivem disso, de aplicação. E nós queremos obviamente estar de bem com todo mundo. Mas eu peço, por favor, ajudem com sugestões, não com críticas. Quando tiver que criticar alguém, não é o presidente. É quem destruiu o emprego de mais de 20 milhões de pessoas".

Vejam que se olharmos só a declaração, não dá pra saber se foi falado pela Dilma ou pelo Bolsonaro. Tem os principais ingredientes boçais nessa frase, 1) está se dirigindo a uma entidade impessoal (mercado), como se ela estivesse contra seu governo, 2) refere-se a um inimigo oculto (quem destruiu emprego).

Ainda tem a segunda parte:

"Porque se esperar chegar (20)21 para ver o que vai acontecer podemos ter problemas sociais gravíssimos no Brasil. Estou falando problemas sociais, que é uma forma educada de falar de distúrbios sociais. A esquerda pode se aproveitar disso e incendiar o Brasil".

Novamente, ingredientes dilmísticos presentes na frase. 1) tentando justificar um gasto populista e altamente danoso a parte fiscal, 2) novamente se dirigindo a entidades impessoais (a esquerda) com ameaças fora da realidade.

Infelizmente caminhamos de novo pra um governo de 4 anos que anda 1 ano pra frente.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Estelionato Eleitoral

 Engana-se quem pensa que o grande estelionato eleitoral que vivemos foi a Dilma no segundo mandato, quando ela negou em todos os debates a necessidade de reformas e deterioração das contas públicas e, logo após eleita, colocou em pauta uma agenda mais voltada a austeridade.

Vejam, ela prometeu que as contas estavam em dia, quando não estavam, mas não se eximiu da responsabilidade de reequilibrá-las.

O que vemos hoje é um estelionato eleitoral sem precedentes, onde todos sabem a situação fiscal do país, porém o governo recusa-se a executar qualquer plano que resulte em diminuição dos gastos públicos.

Onde estão as reformas prometidas?

Durante as eleições o Bolsonaro se pautou especialmente em 3 reformas: previdência, administrativa e tributária. Até agora tivemos apenas a reforma da previdência e ainda assim não foi completa, mantendo privilégios das Forças Armadas, por exemplo.
A administrativa nem é comentada e a tributária está num impasse, pois nosso ministro gênio propõe a criação de mais um imposto, pra financiar o principal ponto de ganho, que seria a desoneração da folha de pagamento. Ocorre que a folha já estava desonerada para alguns setores e o próprio Bolsonaro vetou a continuidade dessa desoneração há 1 mês.
Ou seja, querem criar um novo imposto com o argumento de financiar a desoneração da folha, mas ela já estava desonerada para diversos setores, então basicamente a proposta é só aumentar imposto mesmo.

Onde está a agenda de privatizações prometida durante as eleições?

Até agora as únicas medidas positivas nesse sentido foram algumas poucas concessões e a venda de participações minoritárias em empresas, muito pouco pra quem já está praticamente no meio do mandato.
Medidas mais amplas de concessão então nem se fala mais (aliás esse é um dos pontos do dólar estar tão alto).

Renda Cidadã? Programa populista e eleitoreiro

Impressionante como o gostinho da popularidade, proveniente do auxílio emergencial, fez o Bolsonaro se perder completamente. Vejam, até houveram algumas tentativas do Guedes (fraquíssimo) de extinguir outros programas sociais e colocar tudo no mesmo pacote, mas o Bolsonaro vetou e simplesmente está criando uma despesa adicional.

CPMF?

Esse ponto é inacreditável. Nenhum país desenvolvido tem um imposto em cascata desse tipo, mas o nosso super ministro da Economia acha que funcionaria aqui no Brasil. O pior de tudo é que o Bolsonaro é claramente a favor do tema, só não pode se posicionar publicamente dessa forma pois é algo extremamente negativo politicamente falando, então ele deixa o ônus todo na mão do Guedes. Já posso dizer com certeza que o Guedes foi quem mais me decepcionou nesse governo.

Controle de preços??

Bolsonaro é o famoso praticamente do livre mercado, mas só enquanto as condições foram normais. No primeiro sinal de distorção ele correu pro Ministério da Justiça pra questionar o porquê dos aumentos de preços.

Isso gera um risco absurdo e que ninguém estava precificando, que é o de controle de preços.


Sem contar as declarações pedindo "patriotismo" pro mercado financeiro e para os supermercados. Declaração digna de um imbecil completo, claramente tentando transferir os problemas de sua gestão para terceiros. Me lembra bastante o período mais baixo da nossa história, com as declarações da Dilma sobre estocar vento, saudar mandioca.

Vejam, se o arroz está aumentando de preço, de quem é a culpa? Da margem de lucro dos supermercados ou da alta do dólar, que faz os produtores preferirem exportar o produto a vender no mercado interno? E de quem é a culpa pelo dólar estar nesse patamar? Do próprio governo, que abandonou de vez a agenda de reformas, se apoiando na crise do coronavírus para ingressar com programas extremamente populistas.

Alguém precisa avisar o Bolsonaro que "patriotismo" não paga as contas.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Crédito Privado - mais rentabilidade em tempo de juros baixos

Muito se fala nos blogs de finanças sobre ações, títulos públicos, fundos imobiliários. Mas existe uma outra classe de ativos muito menos falada, que são os créditos privados.

Na verdade ela é bem falada também, pois temos discussões de CDB, LCI e LCAs o tempo todo, porém estou falando especificamente de créditos de empresas, os famosos CRI, CRA e Debêntures.

Dado nosso momento atual, único na história do país, de juros baixos e inflação baixa, muita gente acha que a renda fixa perdeu o sentido, porém isso não podia ser mais errado.

Num país com juros baixos, é natural que as empresas busquem mais o mercado de capitais como forma de financiamento, e não apenas procurem financiamento bancário tradicional.

Para nós investidores, isso significa uma variedade enorme de emissores, prazos, indexadores, garantias.

O grande problema de 95% dos investidores é que eles baseiam suas decisões no nível atual da taxa de juros. Nesse raciocínio, com juros a 3,75%, realmente não é uma boa investir em uma debênture de 10 anos. Se o título render 100% da Selic atual, estamos falando de 44% de rentabilidade depois de 10 anos sem você tocar no seu dinheiro. Parece pouco não é?

Porém, o que muita gente não é familiarizada é com o conceito de curva de juros futura.

Não vou me estender muito no assunto aqui, mas a curva de juros futura basicamente prevê onde os juros básicos estarão em diversos prazos no futuro, como daqui a 1 ano, 3 anos, 10 anos.

E as empresas se baseiam 100% nessa curva de juros ao emitir suas dívidas!

É o mesmo conceito dos títulos públicos. Por que uma NTN-B 2050 está pagando IPCA + 4,50% num cenário de juros a 3,75%? É porque ela está baseada na curva de juros futuros.

E dado todo o cenário de incerteza que estamos vivendo, tanto político quanto do coronavírus, a curva de juros futura aumentou bastante.

É um ótimo momento para se investir no mercado de dívida corporativa, aproveitando a alta remuneração que vários títulos estão oferecendo.

Claro que existe um risco maior, que é o de pagamento da própria empresa. Muita gente ainda tem RDVT11 na cabeça (ou no bolso). Nesse sentido, é bom evitar empresas de segmentos que foram altamente impactados pela crise, como turismo ou varejo presencial.

Porém, uma outra ótima notícia é que CRI, CRA e Debêntures de infraestrutura são isentas de IR.

Várias corretoras oferecem ótimos produtos, entre elas cito XP, BTG Digital, Easyinvest, Ágora, Guide e Rico. É só entrar na sua corretora e procurar as principais opções. Hoje conseguimos encontrar dívidas isentas de Petro ou da Vale pagando mais de IPCA + 4%. Existem opções de outras empresas de CDI + 2%, por exemplo.

E melhor ainda, o padrão da indústria é pagamento de juros periódicos, então além de tudo esses títulos podem ser um ótimo aliado na IF, também como um gerador de fluxo de caixa, como os dividendos ou os alugueis.

Então fica a dica.

E lembrem-se de sempre olhar o rating da oferta (AAA é o melhor e o ideal é não comprar nada abaixo de AA) e procurar o segmento em que ela atua, pois como eu falei, nessa crise alguns setores foram mais afetados que outros.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Brasil, o país inimigo da classe média

Indo na onda da atual discussão sobre a reforma da previdência, aproveito para deixar aqui alguns outros pontos que, na minha opinião, deveriam ser revistos com urgência no nosso país:

- A própria previdência - Hoje ela se tornou um modelo nefasto, primeiro funcionando como uma pirâmide financeira, onde os trabalhadores de hoje pagam as aposentadorias dos trabalhadores de gerações anteriores (com a bomba estourando na geração atual).
Segundo, virou um gigantesco programa social. É uma festa completa, com benefício para quem nunca sequer contribuiu para a previdência (benefício assistencial ao idoso), auxílio doença, auxílio maternidade, pensões, aposentadoria por invalidez (olha o Lula aí).
Nada contra esses benefícios, mas duvido alguém me mostrar algum tipo de lógica econômica em se retirar dinheiro da aposentadoria da classe média pra financiar esses benefícios que são sociais, entrando na mesma categoria do Bolsa Família.

- FGTS - Como se não bastasse sermos roubados na questão da previdência, ainda somos obrigados a aderir ao FGTS, que nada mais é do que o governo retendo uma parte do seu salário mensal pra poder financiar o mercado imobiliário.
Veja só, basicamente é mais uma transferência de renda via programa social, com a classe média emprestando dinheiro, contra a sua vontade, a uma taxa que remunera abaixo da taxa da inflação, para a Caixa Econômica poder emprestar dinheiro para programas sociais tipo o Minha Casa Minha Vida, a uma taxa de 2 a 3x maior o que é pago no FGTS.

- Crime e Insegurança Generalizados - Impressionante como o país inteiro está tomado pela insegurança. Praças inteiras tomadas por moradores de rua, flanelinhas extorquindo pessoas em plena luz do dia, bandidos andando em bandos, sem nenhuma preocupação de sofrerem enquadro.
Mesmo por que, e isso é engraçado no nosso país, quando a polícia tenta enquadrar algum bandido, a população vai contra a polícia.
Há diversos relatos disso, como por exemplo segurança tentando expulsar vendedor de vagão do metrô ou de trem e as pessoas indo contra: "Ah, ele não está atrapalhando ninguém". Pois está sim, o metrô é um transporte público, não é uma feira livre, eu não quero ir trabalhar ouvindo um cidadão gritando que está vendendo chiclete.
Sair a noite virou uma roleta russa, com 20% de chance de ser assaltado e 5% de levar um tiro a cada vez que se sai de casa depois das 20h.

- Zeladoria inexistente - Pra quem já foi aos Estados Unidos e viu tudo 100% arrumado, o Brasil é um zoológico a céu aberto. Mato crescendo em todos os cantos, iluminação pública completamente precária, ruas esburacadas e a grande maioria sem faixas, lixo pra todo lado, poluição sonora.

- País mais fechado do mundo - Quer um produto de qualidade a um preço justo? Aqui isso não existe, a regra é cobrar caro por tudo. Dado a inexistência de concorrência externa, a população é obrigada a pagar pelo iPhone mais caro do mundo, pelas roupas da Zara mais caras do mundo, pelo Big Mac mais caro do mundo, pelos carros mais caros do mundo...
E não adianta culparem as empresas. Primeiro temos uma carga tributária absurda, segundo nossa oferta de mão de obra é fraquíssima e terceiro temos o próprio custo Brasil (roubos de carga, subornos, logística: pedágios, falta de ferrovias, trânsito, estradas em péssimas condições).

É o que dizem: o Brasil não é para amadores.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

FJTA4 - Mais um escândalo na bolsa brasileira?

Sete anos depois do famoso caso de manipulação das ações da Mundial, que ficou conhecido como a bolha do alicate, temos mais um movimento extremamente atípico na bolsa brasileira.

Naquele caso, as ações da empresa começaram a subir sem parar, após os executivos terem feito algumas fraudes contábeis e batido de porta em porta nas grandes corretoras vendendo a grande reestruturação que estava acontecendo.

Com a ação disparando todos os dias, logo as pessoas físicas entraram. Foi o que bastou para os executivos começarem a despejar suas ações no mercado, como manda o bom manual do pump and dump.

Existe inclusive, um grupo de investidores que perderam juntos, mais de 15 milhões de reais.

O que aconteceu com os executivos que ganharam rios de dinheiro no caso? Em 2016 foram condenados em primeira instância, a prisão, pena que foi substituída por multa de 2,3 milhões de reais. Com toda certeza, uma fração do que eles ganharam.

Mas nem isso chegaram a pagar, a ação ainda está tramitando em segunda instância, então eles continuam tranquilões, enquanto toda a grana roubada está rendendo juros pra pagar a tal da multa, se é que vai ter no final.

Não sei se aconteceu a mesma coisa com as ações da Taurus, mas os indícios são fortes: até sexta ela subia 500% no ano. Em 2 dias depois da eleição caiu 50%.

Custa a CVM vir a público dizer que vai abrir uma investigação pra apurar?

Traria muito mais segurança e confiabilidade pra esse mercado capenga e extremamente volátil que é a bolsa brasileira.