terça-feira, 29 de setembro de 2020

Estelionato Eleitoral

 Engana-se quem pensa que o grande estelionato eleitoral que vivemos foi a Dilma no segundo mandato, quando ela negou em todos os debates a necessidade de reformas e deterioração das contas públicas e, logo após eleita, colocou em pauta uma agenda mais voltada a austeridade.

Vejam, ela prometeu que as contas estavam em dia, quando não estavam, mas não se eximiu da responsabilidade de reequilibrá-las.

O que vemos hoje é um estelionato eleitoral sem precedentes, onde todos sabem a situação fiscal do país, porém o governo recusa-se a executar qualquer plano que resulte em diminuição dos gastos públicos.

Onde estão as reformas prometidas?

Durante as eleições o Bolsonaro se pautou especialmente em 3 reformas: previdência, administrativa e tributária. Até agora tivemos apenas a reforma da previdência e ainda assim não foi completa, mantendo privilégios das Forças Armadas, por exemplo.
A administrativa nem é comentada e a tributária está num impasse, pois nosso ministro gênio propõe a criação de mais um imposto, pra financiar o principal ponto de ganho, que seria a desoneração da folha de pagamento. Ocorre que a folha já estava desonerada para alguns setores e o próprio Bolsonaro vetou a continuidade dessa desoneração há 1 mês.
Ou seja, querem criar um novo imposto com o argumento de financiar a desoneração da folha, mas ela já estava desonerada para diversos setores, então basicamente a proposta é só aumentar imposto mesmo.

Onde está a agenda de privatizações prometida durante as eleições?

Até agora as únicas medidas positivas nesse sentido foram algumas poucas concessões e a venda de participações minoritárias em empresas, muito pouco pra quem já está praticamente no meio do mandato.
Medidas mais amplas de concessão então nem se fala mais (aliás esse é um dos pontos do dólar estar tão alto).

Renda Cidadã? Programa populista e eleitoreiro

Impressionante como o gostinho da popularidade, proveniente do auxílio emergencial, fez o Bolsonaro se perder completamente. Vejam, até houveram algumas tentativas do Guedes (fraquíssimo) de extinguir outros programas sociais e colocar tudo no mesmo pacote, mas o Bolsonaro vetou e simplesmente está criando uma despesa adicional.

CPMF?

Esse ponto é inacreditável. Nenhum país desenvolvido tem um imposto em cascata desse tipo, mas o nosso super ministro da Economia acha que funcionaria aqui no Brasil. O pior de tudo é que o Bolsonaro é claramente a favor do tema, só não pode se posicionar publicamente dessa forma pois é algo extremamente negativo politicamente falando, então ele deixa o ônus todo na mão do Guedes. Já posso dizer com certeza que o Guedes foi quem mais me decepcionou nesse governo.

Controle de preços??

Bolsonaro é o famoso praticamente do livre mercado, mas só enquanto as condições foram normais. No primeiro sinal de distorção ele correu pro Ministério da Justiça pra questionar o porquê dos aumentos de preços.

Isso gera um risco absurdo e que ninguém estava precificando, que é o de controle de preços.


Sem contar as declarações pedindo "patriotismo" pro mercado financeiro e para os supermercados. Declaração digna de um imbecil completo, claramente tentando transferir os problemas de sua gestão para terceiros. Me lembra bastante o período mais baixo da nossa história, com as declarações da Dilma sobre estocar vento, saudar mandioca.

Vejam, se o arroz está aumentando de preço, de quem é a culpa? Da margem de lucro dos supermercados ou da alta do dólar, que faz os produtores preferirem exportar o produto a vender no mercado interno? E de quem é a culpa pelo dólar estar nesse patamar? Do próprio governo, que abandonou de vez a agenda de reformas, se apoiando na crise do coronavírus para ingressar com programas extremamente populistas.

Alguém precisa avisar o Bolsonaro que "patriotismo" não paga as contas.

4 comentários:

  1. A administrativa já está rolando, mas basicamente o pessoal fez a mesma cagada do que na reforma administrativa: deixou os militares de fora. E, mais do que isso, deixou de fora todas as grandes categorias: juiz, procuradores etc

    Reforma administrativa de peixe pequeno.

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  2. Leitura perfeita. E lá vamos nós novamente pra beira do abismo.

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  3. Creio que a equipe econômica se perdeu completamente, graças a essa inesperada pandemia.
    Chega a ser angustiante ver um liberal raiz, oriundo da escola de Chicago, como Paulo Guedes ser obrigado a se render a políticas keynesianas de distribuição de renda para evitar que o país caia de vez no buraco. E trágico!
    Na minha opinião é urgente que o governo retome a pauta de privatizações, se livrando dessas empresas jurassicas - petrossauro, bb, caixa, etc, a fim de fazer caixa, e amenizar os impactos do desequilíbrio fiscal causados pela pandemia. Mas bolsonaro já declarou que não vai deixar vender essas empresas lixo.
    Eu, assim como você, também estou decepcionado com esse (des)governo.
    Se Bolsonauro e seus filhos parassem de fazer tantas besteiras, e deixassem Paulo Guedes trabalhar, estaríamos em uma situação melhor.

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